terça-feira, 11 de maio de 2010

o funeral

por guilherme bernardes

ele sentia como se
o mundo todo
tivesse uma enorme dívida
com sua obra.

anos a fio ele escreveu,
pensou,
achou respostas que pareciam
impossíveis,
mas ninguém quis pagar pra ouvi-lo

ele sabia que estava certo.
seu niilismo era abatido,
pelo fanatismo
quase religioso,
com sua própria verdade
sem comprovação científica.
apenas a certeza
interior
que por muitas vezes ele julgou.
estúpida.

o sentimento de
superioridade, junto com
a exclusão,
lhe transformaram num monstro.
a arrogância era sua arma
e
sua palavra, o ponto fraco.
contraditório ao máximo,
como qualquer outro pensador,
ele vivia pra compartilhar com o mundo
o que ninguém quer.

"não estão prontos pra mim", ele pensava,
mas estavam.
apenas não lhes interessava a verdade.
ou o que restou dela.
a fantasia,
que ele não conseguia imaginar,
devido a escancarada e horrorosa verdade
na sua frente,
é o que ele deveria dizer.

o poeta morre jovem,
por mais velho que ele seja.
é um anarquista sentimental e entorpecido
que se recusa a deixar o mundo sem ser ouvido.

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