sábado, 19 de novembro de 2011

a cara

por guilherme bernardes

ele tinha cara de joão.
só que ele
não chamava joão.

era estrangeiro.

tinha um
nome esquisito,
difícil de
pronunciar.

talvez quando nasceu tivesse
cara de alguém com o
nome que
lhe deram,

mas hoje ele tem outra cara,
outra vida.

só falta um outro nome.

sábado, 12 de novembro de 2011

o telefone toca:

por guilherme bernardes

não tô bem. o que rolou? não sei... alguma coisa. me conta, quem sabe eu te ajudo. acho que ninguém pode me ajudar de verdade. e eu acho que você não devia dizer isso, a gente pode achar coisas bem diferentes, viu? vi...mas é que não é assim tão simples, sabe... ainda mais por em palavras, que nunca foram meu forte. eu sei, bom mesmo seria estar vendo seus olhos, eles nunca mentiram pra mim, e eu sempre achei isso ótimo, foi isso que segurou a gente por tanto tempo. quem sabe se eu aparecesse aí, tomasse alguma coisa, você veria meus olhos, eu até tentaria falar mesmo assim, mas pode poupar trabalho de nós dois, e ainda dava pra me animar. hoje não dá, vai ter que ser por telefone, mesmo. como assim? desculpa, mas agora não tem como você pintar aqui. tem gente aí, né... deve ter alguma pessoa deitada na nossa cama, dormindo enquanto você atende o telefone na sacada... eu sei, tô sentindo. não entra nessa, por favor... a gente tá tão bem assim, vamos manter tudo numa boa, como a gente tinha combinado... é melhor pros dois. eu discordo... é melhor pra você que tá bem... eu tô numa pior e tô querendo é chutar o balde... mandar tudo pra puta que o pariu, ser extremista, oito ou oitenta, tudo ou nada... é isso que eu quero de ti agora: amor ou ódio. não dá pra ser tão simples assim... a vida não é feita de duas escolhas o tempo todo... vamos nos encontrar amanhã, a gente conversa isso melhor, com mais calma, olhando nos olhos, acho que a gente tá até precisando pra pararmos com essas dependências que a gente criou... tá na hora do desapego, é triste, mas essa hora chega. considerei esse discursinho todo como uma grande enrolação pra dizer que escolheu ódio. não foi isso que eu disse, porra...não distorce minhas palavras! ih, olha só, tá se exaltando... quer mais prova que isso... tudo bem... quem sabe isso me ajuda a concretizar teu tão sonhado desapego. olha, escuta bem... eu não preciso disso, não mais... a gente terminou justamente porque nenhum dos dois tava mais aguentando isso. mentira! verdade, e você sabe... você quis terminar muitas vezes antes de mim, chegou a fazer... e agora vem com isso? tem razão... a gente se esgotou. é o que tô tentando dizer. sabe... eu não tava mal de verdade... eu só tava com vontade de discutir, lembrar dessa época, porque sabia que no fim a gente ia acabar calmos de volta e eu ia dormir sem preocupações. haha... entendo... pior que eu também gostei... vou deitar deitar de cabeça leve. boa noite pra ti, te cuida. tu também... se precisar de alguma coisa liga. pode deixar, beijo. beijo.