por guilherme bernardes
enquanto as pessoas seguiam dando desculpas
ele continuava vendendo suas lupas
enquanto as pessoas seguiam perdendo suas lutas
ele continuava vendendo suas lupas
enquanto as pessoas seguiam pagando suas putas
ele continuava vendendo suas lupas
enquanto as pessoas seguiam se escondendo nas grutas
ele continuava vendendo suas lupas
mas por que tanta preocupação com um mero
vendedor de lupas
que até hoje nem sequer teve
seu primeiro cliente?
acho que porque,
diferentemente das outras pessoas,
que acham que enxergam perfeitamente,
eu tive coragem de admitir,
economizar,
parar em frente ao banco
e pedir:
"por favor, senhor,
gostaria de comprar uma lupa."
"pois não, meu jovem.
qual dessas você prefere?"
"a que for maior,
mais bonita,
melhor
e que me faça, finalmente,
ver tudo que existe ao meu redor.
de bom, de ruim, de feio ou maravilhoso.
o senhor tem uma dessas?"
"oh, meu jovem...
peço-te mil perdões,
mas não fabricam mais lupas como estas.
as pessoas pararam de comprá-las,
então desistiram de fazê-las.
mas podemos fazer um acordo.
fique com a minha e,
quando chegar a hora certa,
passe-a adiante."
agradeci o senhor e
fui pra casa, mas
nunca mais pude enxergar o mundo
do mesmo jeito
desde que conheci
o vendedor de lupas.