terça-feira, 30 de agosto de 2011

os pedidos

por guilherme bernardes

já fui pedido em namoro três vezes pela mesma garota. a primeira vez foi normal. era dia das mães e já estávamos ficando há três meses. foi a hora certa. e seguiram-se nove meses bem proveitosos. então ela começou uma faculdade nova. ela conheceu gente diferente. no verão eu havia me declarado, me aberto, me entregado àquele relacionamento. disse que a amava. pelo jeito isso ficou chato. ela parou de dizer isso pra mim. parou de me ligar com tanta frequência. e numa sexta-feira ela me ligou dizendo que não estava funcionando mais e deveríamos terminar.

no sábado ela liga pra saber como eu estou. estava bem. mesmo. me surpreendi como me recuperei logo. acho que ela não achou muito normal. mas achou bom. queríamos continuar amigos. no domingo ela me liga. chorando.

- eu não sei mais o que eu quero da minha vida!

- o que foi? calma, me diga devagar.

- ah, eu não sei! tô confusa!

- você quer voltar?

- acho que não.

- então?

- não sei.

- você quer voltar a ter um relacionamento aberto, isso?

- ah, seria bom.

- ok. você que sabe.

desliguei e me senti bem. me senti desejado, parte da vida de alguém que tinha importância. depois de uma semana de um novo relacionamento aberto fui visitá-la em curitiba. quando fui pra casa dela transamos como se ainda fôssemos namorados. nos meus braços e com emoção nos olhos ela me pediu em namoro pela segunda vez.

agora estávamos mais ligados. dessa vez passaram-se treze meses. faltava pouco pra completarmos dois anos de namoro ao todo. criamos dúvidas comuns se deveríamos continuar namorando. aparentemente, não evoluiríamos como um casal mais do que isso. as brigas não eram frequentes e nem muito sérias. a questão era mesmo mais filosófica. vale a pena ficar num relacionamento que não tem como ir mais pra frente? porém nós nos gostávamos muito ainda. vale a pena deixar de ficar com alguém que você gosta muito só porque não pode ficar mais sério que isso? era uma faca de dois gumes. um dilema.

a gente já tinha conversado sobre isso uma semana antes de acontecer mesmo. eu tomei essa semana pra me acostumar com a ideia do fim. consegui. vi que se fosse pra acabar, pelo menos que fosse assim. continuaríamos amigos. na minha casa, pela manhã, ela não conseguia dizer as palavras. começou a chorar, mas eu entendia o que ela queria dizer.

enquanto ela chorava eu sentia uma vontade de agarrá-la. estávamos abraçados mais não queria beijá-la e estragar tudo, dar a impressão que não aceitava a sua decisão. não resisti. pulei em cima dela e dei-lhe um beijo forte. ela retribuiu. logo já estávamos um tirando a roupa do outro. foi uma das melhores transas da minha vida. ela disse que da dela também. um belo jeito de, mais uma vez, de certa forma, conquistá-la, pois ela me pediu em namoro novamente.

apesar de os pedidos não terem sido feitos por mim, isso não me torna um cara fodão. eu tenho é medo. muito. não queria me entregar fácil. às vezes acho que deveria. às vezes queria saber o gosto de um relacionamento destrutivo. aqueles que as brigas são constantes mas que o amor é mais forte e sempre se acaba voltando um pro outro. por real necessidade. eu tenho é medo de me mostrar assim vulnerável e ir eu atrás dela depois que ela terminasse comigo. falta de dieta adequada.

acabou que foi exatamente o que aconteceu. ao fim, achei que poderia suportar, mas não pude. eu deveria ser mais forte. eu tento parecer que sou, mas não consigo. até isso é mais forte que eu. desde que deixei de ser aquele cara, pensei que não haveria mais problemas em aceitar que meus sentimentos existem e que não é uma fraqueza que as pessoas saibam que eu os estou sentindo. talvez porque eu goste de saber o que as pessoas sentem. mas, geralmente, não interessa ao outros como eu me sinto.

não é querer se fazer de coitado. não é um pedido desesperado de ajuda. é um desabafo. algumas pessoas simplesmente não tem a capacidade emocional de cura, enquanto outras o tem em demasia. algumas sofrem por meses, anos, vendo outras terem um ou dois dias de sofrimento. ou nem isso. só queria isso me fosse útil de alguma forma, porque só me traz problemas.

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