sexta-feira, 2 de setembro de 2011

patrícia

por guilherme bernardes

estava tudo combinado pra ser normal. eu sabia do fim que ia ter, mas mesmo assim doeu. mesmo. foi parecido com aquela outra vez, em que, na hora, foi quase insuportável, mas depois estava tudo bem. chorei. me viram chorar. me senti mal, fraco. porém eu precisava disso. era libertador. fui pro bar com a intenção de encher a cara, de esquecer, me divertir e livrar a cabeça de qualquer preocupação.

as cervejas vão vindo, os desabafos vão surgindo. plínio me ouvia. me entendia e dividia comigo também. grande cara. fomos juntos na área de fumantes do bar e vieram falar conosco:

- vocês fazem cinema na fap? - uma garota bonita.

- não. eu faço história. - respondi.

- eu, faço. - disse plínio.

o papo continuou, a garota bonita era gaúcha, fazia dança e trouxe com ela uma amiga pernambucana. era estranho ser a única pessoa de curitiba naquela coversa. conversas não muito sérias. fazia certo frio e nos convidaram pra entrar e pra que nos juntássemos a mesa. quando os shows começaram fomos assistir.

fui ao banheiro e havia uma fila. uma garota. me sentei ao seu lado e tentei coversar. outras amigas dela foram chegando querendo também usar o banheiro e cedia-lhes a vez para continuar lá conversando. plínio comentou:

- cheio de mina falando com a gente...

- pois é, cara...

fiquei lá fora novamente durante a maior parte da segunda banda. e lá conversei com ela pela primeira vez. era pequena, de cabelos pretos e curtos. um ar meio cult, acho que ressaltado pelos óculos grandes. combinavam bem com seu rosto. os assuntos me são incertos, mas em tal momento quis lhe dar um beijo. tentei e não consegui. ela se desviou e tentei disfarçar dizendo qualquer coisa ao seu ouvido. continuamos na conversa e quando a terceira banda foi começar, locomotiva espectral, ela me pegou pela mão e me levou à frente do palco.

sabíamos os dois as letras de cor e cantamos juntos. até que tentei lhe beijar de novo e dessa vez consegui. foi bom. estávamos consideravelmente alcoolizados, os dois, e entre um verso e outro nos beijávamos. até que me bateu uma dúvida. qual era o nome dela, mesmo?

não seria idiota de perguntar. continuei agindo normalmente. até que o show terminasse. e então fomos novamente para a área de fumantes. fiz o plínio perguntar pra mim, pra não ficar feio. era patrícia. mas depois tomei conta de que talvez ela não soubesse o meu nome.

- você sabe o meu nome?

- ...não... - respondeu.

- hahaha! pois é...

- começa com eme, né?

- sim, começa com eme. - menti com um sorriso.

- ah...matheus? maurício? marco?

- hahaha! tá bom. não começa com eme. é com gê.

- ah! fica me zuando. é gustavo?

- não, é gê de giovanni - chega o plínio rindo e acabando com minha brincadeira de adivinhação.

propus que fôssemos embora pra casa do plínio. ele tinha cigarros com ele e mais cerveja em sua casa. a distância é de uns dois kilômetros feitos às cinco da manhã. o bairro é bem tranquilo e chegamos a salvo depois de uma meia hora caminhando. patrícia veio falando ao celular boa parte do caminho com um amigo. ela estava praticamente berrando. me incomodou um pouco.

subimos no apartamento do plínio e ofereci uma cerveja para patrícia. ela pediu apenas um copo d'água e depois foi ao banheiro. aproveitei o momento de privacidade para pedir ao plínio que dormisse na sala para eu dormir na cama dele com ela. ele concordou. grande cara. perguntei se ele tinha preservativos e ele me mostrou aonde ele os guardava. quando ela saiu do banheiro, fui escovar os dentes, dei boa noite ao plínio e tranquei a porta conosco lá dentro, enquanto as frestas da janela começavam a mostrar os primeiros raios de sol de um sábado que acabou sendo escaldante.

ela pediu que primeiro apenas me deitasse ao seu lado. queria conversar.me beijou com volúpia e começamos a trocar carícias. quando começamos a transar, me chamou a atenção que ela pedia para pararmos depois de certo tempo. perguntei porque, ela disse que era para que sentíssemos falta.

- com quantas pessoas você já fez sexo? - ela perguntou numa dessas pausas.

- duas. você e minha ex.

- quase um virgem, então. - disse com certa surpresa.

- acho que não, porque a namorei por dois anos e meio. e você, com quantas?

- não contei.

passamos boa parte do começo da manhã conversando. nos conhecendo melhor. dividi muito com ela. acho que me mostrei vulnerável. quem sabe egocêntrico. mas ouvi bastante, também. estava à vontade com sua cabeça apoiada em meu peito e suas pernas entrelaçadas as minhas. mas sempre que o silêncio se estendia por algum tempo extra, nos tocávamos outra vez. acho que fomos dormir passado das sete e meia.

ela achou que era mais velho do que realmente sou. disse que deveria ser por causa da barba. ela era três anos mais velha que eu. quando acordei eram dez horas. precisava pegar um ônibus à uma e meia na rodoviária. tentei acordá-la delicadamente com beijos. mas acabamos nos esfregando por debaixo das cobertas. gostei do modo como ela falou que eu poderia ficar o dia inteiro dando leves mordidas em suas costas.

- precisava de um banho. - ela comentou.

- eu também. meu cabelo só se arruma com água. vou perguntar pro plínio aonde tem uma toalha.

ele tinha perdido a aula porque dormiu demais. me senti mal. ele queria ir. ele não queria nem ir no bar e foi por minha causa. grande cara. peguei a toalha e entramos eu e a pati no banheiro. quando o plínio bateu na porta, achamos que ele estava nos apressando. depois de desligar o chuveiro o ouvimos falar que tinha uma outra toalha pra nos oferecer. tínhamos pego apenas uma para dividirmos.

nos secamos, pusemos nossas roupas, agradecemos ao plínio imensamente e fomos pegar nossos ônibus. cada um iria para um lado. comprei uma água com gás, ela uma coca. eu estava de ressaca. sempre fico. meu ônibus chegou primeiro. pedi que ela me ligasse quando quisesse e ela disse que o mesmo valia para mim. embarquei rumo ao centro para almoçar.

2 comentários:

  1. Agora não é mais a minha casa que é albergue... Hahahaha Tens que parar com isso rapaz... Hahaha

    Novas safras nessa vida depois de algum periodo desfavorável... Fico feliz que tenhas novas experiencias. O descobrir é sempre tão belo... Beijos
    Felicidades.

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  2. período desfavorável?

    beijos. felicidades.

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